Estudo sueco avalia risco de pacientes psiquiátricos sofrerem ou cometerem atos de violência

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Estudo sueco avalia risco de pacientes psiquiátricos sofrerem ou cometerem atos de violência

Indivíduos diagnosticados com doenças psiquiátricas podem vivenciar diversos desfechos adversos, como desemprego, falta de moradia e morte prematura. Além disso, em comparação com a população em geral, estes indivíduos têm mais contato com o sistema judiciário e mais risco de cometer atos violentos; no entanto, as evidências do aumento do risco desses pacientes serem vítimas de violência são limitadas.

Primeiramente, revisões sistemáticas relataram grandes, mas imprecisos, riscos relativos relacionados com a probabilidade de pacientes psiquiátricos serem vítimas de violência, em comparação com a população em geral. Estas revisões foram baseadas em estudos transversais com pequenas amostras e em estudos retrospectivos. No entanto, as pesquisas publicadas até então não excluíram a possibilidade de causa reversa nem controlaram para risco de violência pregressa.

Em segundo lugar, estudos com famílias e gêmeos têm mostrado que doenças psiquiátricas, crimes violentos e ser vítima de violência tem uma tendência a ocorrer em famílias, mas sua etiologia ainda é pouco conhecida. A literatura sugere que os estudos sobre agressividade em pacientes psiquiátricos são enviesados por causa do confundidor familiar.

Buscando preencher esta lacuna na literatura, foi conduzido um estudo populacional na Suécia entre janeiro de 1973 e dezembro de 1993 que permitiu a avaliação de potenciais associações entre a perpetração de violência e a vitimização de pacientes psiquiátricos – levando em conta os confundidores familiares.

No total, 250.419 pacientes psiquiátricos foram identificados a partir do registro nacional sueco. A exposição à violência foi avaliada desde o nascimento dos participantes. Os pacientes foram pareados por idade e sexo com a população em geral (2.504,190) e com seus irmãos biológicos sem diagnóstico de doença mental (194.788). A data de início foi definida como a liberação do primeiro episódio. Os participantes foram excluídos do estudo em caso de migração, morte ou desfecho de interesse.

Exposição à violência foi definida como: buscar por atendimento médico em algum serviço de saúde, ser submetido a internação hospitalar ou ter sido assassinado. Perpetração de violência foi definida como: cometer algum crime violento com dolo.

Foi usado o modelo de regressão de Cox na tentativa de eliminar confundidores sociodemográficos e familiares.

Entre os 250.419 pacientes, 55,4% eram mulheres, sendo que a média de idade ao receber o primeiro diagnóstico psiquiátrico variou de 20,0 anos para pacientes diagnosticados com transtorno por uso de álcool a 23,7 anos para pacientes com transtornos de ansiedade.

Em comparação com os controles sem doenças psiquiátricas, os pacientes psiquiátricos tiveram mais risco de sofrer e de cometer atos de violência. Nos modelos ajustados para confundidores, as pessoas com doenças psiquiátricas apresentaram risco 3,4 vezes maior de sofrer alguma violência do que seus irmãos sem diagnóstico psiquiátrico (intervalo de confiança, IC, de 95% de 3,2 a 3,6). Já o risco de cometer atos de violência foi de 4,2 (IC 95% de 3,9 a 4,4).

Para lembrar:

É importante ressaltar que este estudo não diferenciou os pacientes em episódios agudos ou em momentos crônicos da doença. É sabido que pacientes psiquiátricos em episódios agudos têm mais risco de cometer atos de violência do que quando estão estáveis.

Taxa de suicídios na Grécia antes e durante o período de austeridade estratificado por sexo e idade: Relações com desemprego e variáveis econômicas

Nos últimos anos tem sido debatido se o aumento da taxa de suicídios na população europeia está relacionado com a recessão econômica na região. Embora o comportamento suicida seja multifatorial, existe uma grande ênfase nos fatores socioeconômicos.

Vários fatores de risco de suicídio foram identificados e classificados como sendo primários, tal como a presença de doenças psiquiátricas, doenças graves e história de tentativa de suicídio. Fatores de risco secundários são: situações adversas da vida e fatores psicossociais. E fatores demográficos, como ser do sexo masculino e ter idade avançada, podem ser considerados como fatores de risco terciários.

Sabe-se que a presença de fatores de risco primário torna o risco de suicídio maior. Os fatores secundários e terciários só elevam o risco com a presença de um fator primário.

As variáveis econômicas são de suma importância, pois são fatores modificáveis.

Uma análise dos países europeus, especialmente da Grécia, identificou um aumento de mortes por suicídio. Em 2014 e 2015 a taxa de suicídios atingiu recordes históricos no país (mesmo ainda sendo baixa para a Europa); em comparação com a média registrada entre 2000 e 2010, o aumento de casos chegou a 51,7% entre os homens e 76,2% entre as mulheres. Em 2015, foi observada uma pequena diminuição de 5,4% entre homens e 6,8% entre mulheres, o que sugere uma estabilização da taxa de suicídios na Grécia.

A causa do aumento e da diminuição dos índices de suicídio ainda é motivo de debate, sendo que a situação econômica em geral pode ter sido um fator; no entanto, também foram observados padrões de aumento da taxa de suicídios na Alemanha, Noruega e Holanda.

Durante os anos de crise, a imprensa enfatizou a possível relação entre a crise econômica e o aumento da taxa de suicídios. Tanto na Europa como nos Estados Unidos o aumento do desemprego foi seguido de um aumento da taxa de suicídio.

O objetivo deste estudo foi entender o papel do desemprego e de outras variáveis econômicas, como produto interno bruto (PIB), inflação e PIB per capita, no aumento dos índices de suicídio específico por idade e gênero. Para isso, foram utilizados dados da autoridade grega de estatística, usando regressão linear e correção de Bonferroni para múltiplos testes.

Os resultados mostram 33% de aumento das mortes por suicídio durante o período de recessão na Grécia (de 2009 a 2015). Um terço dessas mortes pode ser diretamente atribuída ao desemprego, um terço a outros fatores associados à recessão, e o outro terço a fatores desconhecidos. O efeito do desemprego foi restrito a homens em começo de carreira (de 20 a 24 anos), meia-idade (de 45 a 49 anos e 55 a 59 anos).

Para lembrar:

Países que passam por momentos de grande crise econômica, como o Brasil, devem levar em consideração a possibilidade de aumento da taxa de suicídios. É importante que programas de assistência sejam estruturados e melhorados. Os canais de atendimento por telefone são uma forma de apoio que contribui para a prevenção, como o trabalho desempenhado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), que deve sempre ser divulgado.

Incidência e determinantes de uso de serviço de saúde mental após cirurgia bariátrica

A associação entre ganho ponderal em excesso e saúde mental é complexa e pode envolver fatores genéticos, hormonais, sociais e ambientais. A obesidade tem sido ligada a falta de satisfação corporal, baixa autoestima e depressão. Doenças psiquiátricas estão associadas ao início do ganho ponderal. Indivíduos com obesidade normalmente são estigmatizados, sofrem exclusão social e discriminação.

A cirurgia bariátrica foi concebida nos anos 50 e tornou-se muito comum nas duas últimas décadas. Estudos mostram que este tipo de cirurgia exacerba doenças psiquiátricas, especialmente automutilação e suicídio. No entanto, como esta relação se faz ainda é desconhecido.

A hipótese dos autores do estudo em pauta foi que a cirurgia bariátrica exacerbaria as comorbidades do paciente, resultando em um aumento da procura por atendimento psiquiátrico após a cirurgia, inclusive por aqueles sem diagnóstico prévio de doença psiquiátrica. O estudo avaliou a incidência e os fatores de risco de busca por serviços psiquiátricos após a cirurgia bariátrica. Para isso, foi feita uma estratificação de acordo com o tipo de doença psiquiátrica.

Foram utilizados dados do banco de dados da Austrália Ocidental, sendo a data index o momento da cirurgia. Os pacientes foram acompanhados por 10 anos. No total, 24.766 pacientes foram incluídos no estudo; a média de idade foi de 42,5 anos; e 77,3% eram mulheres.

O uso de ao menos um serviço psiquiátrico ocorreu em 16,1%. Destes, 35,2% buscaram atendimento antes da cirurgia; 25,8% antes e depois; e 39,0% apenas depois do procedimento. Houve um aumento na ocorrência de doenças psiquiátricas após a cirurgia bariátrica (uso de ambulatórios, RR = 2,3; IC 95%, de 2,3 a 2,4; uso de pronto-socorro, RR = 3,0; IC 95% de 2,8 a 3,2; e hospitalização, RR = 3,0; IC 95%, de 2,8 a 3,1. Houve um grande aumento na incidência de casos de automutilação (RR = 4,7; IC 95% de 3,8 a 5,7); e quase 10% de casos suicídio após a cirurgia.

Para lembrar:

É necessária uma avaliação psiquiátrica muito criteriosa antes da liberação de qualquer paciente para a cirurgia bariátrica. Nem todo paciente deve ou tem condições clínicas de se submeter a este tipo de intervenção. Lembrando que existem critérios muito bem estabelecidos, que às vezes não são seguidos, para que pacientes sejam submetidos à cirurgia bariátrica.

Artigo publicado no Medscape em 02 de fevereiro de 2020