Janeiro Branco: É possível fazer prevenção em saúde mental?
Nesse episódio do Conversa de Médico o tema é Janeiro Branco, uma campanha brasileira criada para aumentar o conhecimento sobre as doenças mentais e a prevenção delas.
Para discutir esse tema está conosco o Dr. Sivan Mauer, psiquiatra e advisor de psiquiatria do Medscape Edição em Português. O Dr. Sivan inicia trazendo para a conversa uma informação muitas vezes esquecida: existe prevenção para doenças mentais e uma parte importante dela é a psicoeducação. Como funciona? O Dr. Sivan explica que conhecer a doença mental é, também, uma forma de preveni-las, já que a falta de informação fomenta a o uso de equivocado de “diagnósticos” que jamais foram validados por um psiquiatra.
“Todo mundo discute depressão, mas muitos não entendem exatamente o que é essa doença. Depressão é só tristeza?, Luto é depressão? As pessoas não sabem”, diz o psiquiatra.
Um outro aspecto salientado na discussão é a ampliação do acesso a gerações mais modernas de medicamentos, que conseguem proporcionar resultados mesmo com doses baixas e com menos efeitos colaterais. Um exemplo são os inibidores seletivos da receptação de serotonina, que hoje são ampla e facilmente prescritos. O avanço no tratamento, no entanto, também tem o lado ruim: o uso contínuo não é isento de efeitos colaterais, especialmente quando se trata de alguns anti-psicóticos cujo uso em longo prazo pode ter efeitos neurológicos debilitantes.
Mas o ponto nevrálgico da conversa é realmente o acesso aos serviços de saúde mental. Como falar em prevenção se os hospitais gerais não têm psiquiatras atuando junto aos serviços de emergência, ou com departamentos de psiquiatria estruturados?
Para o Dr. Sivan, os psiquiatras se isolaram em seus consultórios, se afastando da prática hospitalar, o que acabou contribuindo para que a assistência aos pacientes psiquiátricos seja hoje fragmentada e difícil de acessar, mesmo na saúde suplementar.
A presença de estruturas apropriadas permitiria não só um atendimento clínico aos pacientes psiquiátricos, mas também a identificação de quadros psíquicos em pacientes internados com outros diagnósticos o que poderia orientar uma internação mais breve e com melhor desfecho.
E por fim, o Dr. Sivan nos lembra que existem serviços que formam esses médicos em quantidade adequada, o que permitiria fazer frente a esse quebra-cabeças que é hoje a prevenção e o tratamento das doenças psiquiátricas no Brasil.