Depressão pós-parto durante a pandemia: atenção aos sinais de alerta

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O parto geralmente é um momento muito feliz e esperado pela maioria das mulheres. Entretanto, algumas desenvolvem sintomas depressivos no puerpério, que podem ser leves e autolimitados – o “blues puerperal” ou “baby blues”.

Cerca de 50% ou mais das mulheres apresentam estes sintomas, mas alguns casos podem ser mais graves, caracterizando uma síndrome depressiva. Existem alguns fatores que podem chamar a atenção como o histórico prévio de alteração do humor no período pré-menstrual, síndrome depressiva anterior à gravidez, estresse em relação aos cuidados com a criança, histórico familiar de depressão, o parto cesáreo e até não amamentar.

“A fisiopatologia é desconhecida, mas pode estar associada a mudanças hormonais, que levam a alterações nos níveis de neurotransmissores. Nesse momento de quarentena isso fica mais evidente e os fatores de risco aumentam, porque as alterações do humor são maiores”, explica a ginecologista Dra. Maria Gabriela Kuster Uyeda, professora da Escola Paulista de Medicina.

O “blues puerperal” gera sintomas depressivos leves, como tristeza, choro, irritabilidade e ansiedade. As mães também podem apresentar quadros de insônia, exaustão, diminuição da concentração e alternância de humor. Tudo isso pode surgir após o parto, e atinge o pico nos dias seguintes, sumindo em duas semanas. É importante que os obstetras sejam capazes de distinguir o que é uma depressão maior, do cansaço habitual em uma mulher que acabou de ter um bebê.

O tratamento normalmente é conservador, mas pede a observação constante dessas mães, que precisam de apoio e de uma boa rede de segurança. Entretanto, com a pandemia do novo coronavírus muitas puérperas não estão recebendo esta atenção fundamental. Além disso, o isolamento dentro de casa contribui para agravar o quadro, não só pela solidão, mas também porque o corpo passa a receber menos luz solar, que faz o corpo produzir vitamina D.

A pandemia também transformou um momento festivo em estresse e temor. As visitas foram suspensas na maternidade e na volta para casa o trabalho é dobrado, pois a rede de apoio não pode estar presente.

“Não poder compartilhar a alegria da gestação, do parto, e ainda enfrentar a tristeza do puerpério é muito difícil”, desabafa a Dra. Gabriela, que foi mãe durante este período de isolamento e não pôde contar com a rede de apoio, tão importante num momento assim.

Com relação aos tratamentos para depressão pós-parto, o Supremo Tribunal Federal aprovou, no ano passado, uma medicação para o problema.

“A grande maioria das mulheres que têm depressão pós-parto, que é diferente dos ‘blues’, normalmente são pacientes que já vêm com quadros recorrentes há bastante tempo. Nesses casos, a melhor terapia é o retorno à medicação que já estava sendo usada”, diz o psiquiatra Dr. Sivan Mauer, reforçando que “é importante que essas mulheres tenham mais exposição à luz solar. Uma boa dica é não fechar as cortinas, quando for dormir e acordar com a luz do ambiente externo. Pequenas atitudes comportamentais essenciais”.

Tanto para o ginecologista, quanto para o obstetra é um desafio acompanhar a gestação de uma paciente e conseguir identificar quando a mulher tem depressão. Talvez valha a pena uma interação com psiquiatra entre a 32ª, 34ª semanas, sugere a ginecologista.

“Peço aos maridos para irem às consultas de pré-natal, porque eles serão os maiores parceiros nesse período. É importante que saibam que existe uma grande possibilidade de as esposas ficarem muito tristes, quietas. E também converso com as pacientes e reforço que elas devem se permitir chorar, que a ansiedade é normal, que não devem se culpar. E uso uma frase muito importante que alguém me disse: você é a melhor mãe que seu filho pode ter”.

É importante que o médico identifique quem pode estar caminhando para depressão. E há dicas claras. Por exemplo: quando alguém está há mais de duas semanas com insônia, apesar de estar extremamente cansada. Ou uma paciente que começa a ter claustrofobia, medos que não existiam antes, como entrar em elevador, sair de casa, dirigir. É a hora de avaliar os critérios de depressão, e são necessários pelo menos cinco sintomas para se estabelecer o diagnóstico.

Para o Dr. Sivan, o que pode realmente ajudar a entender o que estas mães estão sentindo é, principalmente, a história de doenças psiquiátricas da família.

“A questão da insônia merece atenção especial, pois possivelmente essa paciente já não está mais tendo o ‘blues puerperal’ e sim começando a apresentar um episódio de depressão mista, associada à ansiedade. O recado que eu deixaria é que antes de prescrever antidepressivo é avaliar se aquela mãe realmente precisa de medicação naquele momento”, diz o psiquiatra.

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