Atendimento psiquiátrico emergencial antes e na vigência da pandemia
Tendências epidemiológicas em ferimentos por arma de fogo nos Estados Unidos entre 2009 e 2017
Ferimentos por arma de fogo são um problema de saúde pública que desafia os Estados Unidos, porém, os dados disponíveis para avaliar este cenário e implementar intervenções têm lacunas. A maioria dos estudos sobre ferimentos por arma de fogo focam em mortes e não na incidência geral de ferimentos, pois a maioria dos indivíduos que sofre ferimentos sobrevive.
Vários fatores, como o tipo e o calibre da arma, o número de ferimentos e a localização das lesões – bem como o acesso a atendimento médico – determinam o desfecho desses casos. Os EUA não têm uma fonte de dados nacional sobre os casos de ferimento por arma de fogo. As lesões letais foram compiladas a partir dos atestados de óbito disponibilizados pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA por meio do National Violent Death Reporting System (NVDRS).
Apesar de a incidência de morte por arma de fogo ter diminuído nos anos 90 e estabilizado nos anos 2000, os casos de suicídio por arma de fogo aumentaram a partir de 2006 e os homicídios por arma de fogo começaram a aumentar em 2014.
Os CDC coletam dados sobre ferimentos não letais por arma de fogo nos EUA, mas as estimativas são baseadas em uma amostra de menos de 100 dos 5.000 serviços de emergência nos EUA – diante disso, as análises concluíram que os dados não são confiáveis.
Estudos sobre ferimentos não letais por arma de fogo têm usado frequentemente registros de trauma, mas esses registros incluem apenas pacientes tratados nestes centros de trauma, deixando de fora um a cada três ferimentos por arma de fogo.
A pesquisa nacional de vítimas de crimes fornece informações sobre agressões, mas não inclui ferimentos acidentais ou autoinfligidos. Desde 2006, o programa da agência para pesquisa em assistência médica e qualidade em assistência médica, custos e utilização lançou amostras de departamentos de emergência em todo o país (NEDS), amostra estratificada de 900 a 1.000 departamentos de emergência para prover estimativas nacionais.
O estudo em tela combinou dados dos CDC e NEDS sobre ferimentos por arma de fogo de 2009 a 2017. Os casos foram identificados pela classificação internacional das doenças e categorizados por intenção, faixa etária e localização urbana/rural.
Neste período, foi registrada uma média de 85.694 visitas ao serviço de emergência em função de ferimentos por arma de fogo não letais e 34.538 mortes por ano; 76,6% das mortes ocorreram fora do hospital.
Agressão foi o motivo mais comum (38,9%), seguido de acidente (36,9%) e ferimentos autoinfligidos (19,6%). Este último foi responsável por 61,2% das mortes, apresentando a maior taxa de letalidade (89,4%; intervalo de confiança, IC, de 95% de 88,5% a 90,4%), que foi seguida por agressão (25,9%; IC 95% de 23,7% a 28,6%) e intervenções legais (23,4%; IC 95% de 21,6% a 25,55).
Dentre as mortes causadas por ferimentos autoinfligidos, 87,8% ocorreram fora do ambiente hospitalar e, durante o período do estudo, houve aumento da incidência de casos em todas as faixas etárias, tanto nas áreas urbanas como rurais.
Para lembrar:
Este estudo sugere que tentativa de suicídio parece ser a causa mais comum de ferimento letal por arma de fogo, sendo que, nestes casos, a maioria das vítimas nem chegam a obter atendimento hospitalar. Apenas um pouco mais de 10% sobrevivem a este tipo de lesão. É de extrema preocupação, do ponto de vista de saúde pública, a posição do governo federal brasileiro em relação à flexibilização da posse de armas. Este é mais um estudo que comprova que mais acesso a armas de fogo pode aumentar o número de suicídios na população em geral.
Artigo publicado no Medscape em 02 de março de 2021