Estudo avalia ex-jogadores de futebol para risco de doenças neurodegenerativas
Mortalidade por doença neurodegenerativa entre ex-jogadores de futebol profissional
Nos últimos anos alguns têm se questionado sobre o risco de várias doenças degenerativas como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e encefalopatia traumática crônica (ETC) estarem relacionadas com os esportes de contato. O reconhecimento de alterações patológicas da ETC em ex-jogadores de futebol e futebol americano tem despertado esta preocupação, porém, os dados sobre o risco de doenças neurodegenerativas nesta população ainda são limitados.
As consequências neurocognitivas da prática de esportes de contato são incertas, mas os benefícios associados à prática de atividades físicas na prevenção de doenças crônicas – inclusive de demências – é bem estabelecido. Estudos revelam que, em comparação com a população em geral, atletas de alto nível têm maior longevidade, com menos risco de doença cardiovascular.
O futebol é um esporte praticado em mais de 200 países, e soma mais de 250 milhões jogadores; no entanto, não é possível comparar os jogadores amadores com os profissionais. As informações sobre a saúde dos ex-jogadores profissionais podem ser extremamente valiosas para a avaliação dos riscos desse esporte.
Pesquisadores conduziram um estudo de coorte retrospectivo para avaliar a mortalidade por doenças neurodegenerativas entre ex-jogadores profissionais escoceses – comparando com controles da população em geral. Para isto, foram incluídos 7.676 ex-jogadores de futebol profissional e 23.028 controles saudáveis da população em geral.
A causa da morte foi verificada por meio da certidão de óbito. Dados da dispensação de medicamentos para demência foram comparados.
Em uma média de 18 anos de acompanhamento do estudo, morreram 1.180 (15,4%) ex-jogadores e 3.807 (16,5%) controles. Quando foram comparadas todas as causas de morte até os 70 anos, os ex-jogadores apresentaram uma taxa menor que os controles.
A taxa de mortalidade por doença isquêmica foi menor entre os ex-jogadores do que entre os controles (hazard ratio, HR, = 0,8; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,66 a 0,97); assim como por câncer de pulmão (HR = 0,53; IC 95%, de 0,40 a 0,70).
A mortalidade por doença neurodegenerativa como causa primária representou 1,7% entre os ex-jogadores e 0,5% entre os controles. A doença neurodegenerativa mais frequente entre os ex-jogadores foi doença de Alzheimer (HR = 5,07; IC 95%, de 2,92 a 8,82) e a menos frequente foi doença de Parkinson (HR = 2,15; IC 95%, de 1,17 a 3,96).
Os ex-jogadores receberam mais prescrições de medicamentos para demência do que os controles (odds ratio, OR, = 4,90; IC 95%, de 3,81 a 6,31). Não houve diferenças na taxa de mortalidade por doenças neurodegenerativas entre goleiros e jogadores de outras posições, mas os goleiros receberam menos prescrições de medicamentos para demência.
Para lembrar:
Este estudo retrospectivo sugere que ex-jogadores de futebol têm mais risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e possivelmente ETC. E é importante lembrar que até o momento não existe tratamento para ETC. Existe um estudo recente sobre a possibilidade do uso de lítio para a prevenção de ideação suicida, demência, impulsividade e labilidade do humor nestes pacientes.
Associação entre uso de anfetamina e desfechos psiquiátricos: uma revisão sistemática e metanálise
A preocupação com o uso de metanfetamina tem aumentado globalmente, principalmente do ponto de vista de saúde pública. Em 2016, o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (UNODC, sigla do inglês, United Nations Office on Drugs and Crime) estimou que 34 milhões de pessoas no mundo usam anfetaminas, sendo que 4,96 milhões seriam dependentes da substância. O uso ilícito mais comum envolve a metanfetamina.
A intoxicação por anfetamina pode causar sintomas transitórios, como alucinação e paranoia, e exacerbar a psicose em pacientes com esquizofrenia, mas não está claro se o uso pode causar a doença.
O uso crônico dessa substância está associado a um aumento da agressividade, e, segundo pesquisas, das taxas de suicídio. O consumo recorrente de anfetamina é bastante associado à depressão. A intoxicação também pode provocar ansiedade.
Foi conduzida uma revisão sistemática e metanálise de dados relacionando o uso de anfetamina com cada um dos seguintes desfechos psiquiátricos: psicose, violência, suicidalidade, depressão e ansiedade. Foram incluídos estudos transversais, caso-controle, de coorte e randomizados controlados.
O objetivo do trabalho foi estimar a associação entre o uso de anfetamina e cada um dos cinco desfechos psiquiátricos, bem como avaliar as evidências consistentes de casualidade.
Foram incluídos 149 estudos, dos quais 59 incluídos na metanálise. A metanálise teve uma heterogeneidade significativa. As maiores evidências foram provenientes dos estudos transversais. O uso de anfetamina foi associado a aumento do risco de psicose (odds ratio, OR, de 2,0; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,3 a 3,3), suicidalidade (OR = 1,7; IC 95%, de 1,0 a 2,9) e depressão (OR = 1,3; IC 95% de 1,2 a 1,4).
A presença de transtorno por uso de estimulantes aumentou o risco de psicose (OR = 2,4; IC 95%, de 1,6 a 3,5), violência (OR = 6,2; IC 95%, de 3,1 a 12,3) e suicidalidade (OR = 1,5; IC 95%, de 1,3 a 1,8).
Para lembrar:
O uso de anfetamina (tanto lícito como ilícito) está associado a potenciais desfechos psiquiátricos. Além disso, muitas pesquisas mostram que as anfetaminas são neurotóxicas. Serão as consequências da legalização das anfetaminas uma lição para a legalização da maconha?
Comparando a saúde mental de usuários de Facebook e não usuários em uma amostra de pacientes internados na Alemanha
No século XXI as mídias sociais fazem parte do cotidiano da grande maioria da população mundial. Com mais de 2,3 bilhões de usuários, o Facebook é uma das redes sociais mais populares.
Indivíduos que usam as mídias sociais de forma constante normalmente recebem um retorno positivo dos amigos e familiares, e isto melhora seu humor e aumenta o sentimento de pertencimento a um grupo ou à sociedade.
Foi hipotetizado que esta experiência positiva contribui para a saúde mental dos indivíduos: Um estudo de 2016 relatou um aumento da percepção de suporte, da sensação de felicidade e de satisfação e uma redução do humor deprimido entre usuários do Facebook em comparação com não usuários. Com isto, levantou-se a hipótese de que o Facebook poderia ser uma ferramenta para o tratamento clínico, como psicoeducação e intervenções cognitivas.
No entanto, outros estudos questionaram este efeito positivo do Facebook; alguns estudos longitudinais descreveram que o uso cotidiano da rede contribui para a diminuição da satisfação diária e piora do humor.
O tempo de uso diário foi relacionado com o nível de depressão maior e sintomas de ansiedade. Além disso, o uso do Facebook, por si só, tem sido causa de angústia. O uso do Facebook já foi descrito como uma influência negativa para o bom funcionamento do ciclo circadiano.
Estas inconsistências impedem a conclusão se o uso desta mídia social deve ser incentivado ou desencorajado. Além disso, a maioria dos estudos na área foram conduzidos com jovens estudantes, o que limita a generalização dos resultados.
Faltam estudos sobre o uso do Facebook e sua relação com a saúde mental de pacientes com doenças psiquiátricas. Este estudo se propôs a comparar variáveis relacionadas com a saúde mental entre pacientes internados em ala psiquiátrica que usam Facebook e os que não usam a plataforma. Para isto, foram usados modelos dimensionais positivos (aspectos emocionais, psicológicos e sociais de bem-estar) e negativos (HEALTH-49, uma escala de depressão de cinco pontos e uma escala de estresse social).
Foram incluídas duas subamostras de pacientes internados em uma clínica na Alemanha (336 usuários de Facebook e 265 não usuários). Os usuários da rede social apresentaram três variáveis com valores maiores na dimensão negativa (depressão, estresse social e insônia) e valores significativamente menores em relação à dimensão positiva, quando comparados com os não usuários.
O tempo de uso diário do Facebook foi positivamente associado a variáveis da dimensão negativa.
Para lembrar:
O uso do Facebook deve ser visto com restrições, principalmente em pacientes com transtornos do humor. A grande maioria dos estudos realizados até o momento recomenda que estes pacientes evitem ou, pelo menos, restrinjam ao máximo o uso da plataforma.
Artigo publicado no Medscape em 20 de janeiro de 2020