Temperamento afetivo e depressão maior em idosos
Relação entre temperamento afetivo e depressão maior em idosos: Um estudo caso-controle
Os temperamentos afetivos podem ser conceitualizados como parte do espectro das doenças afetivas. O conceito moderno de temperamento integra a visão que o psiquiatra alemão Dr. Emil Kraepelin tinha da doença maníaco-depressiva quando definiu que a recorrência de transtornos afetivos surgia de sintomas duradouros de depressão, ciclotimia e mania.
Os três principais tipos de temperamento afetivo são:
- Hipertimia: Sujeitos que apresentam nível de energia aumentado, menos necessidade de sono, libido aumentada, são mais sociáveis e mais suscetíveis a abuso de álcool e drogas.
- Distimia: Sujeitos com sintomas depressivos leves como parte de sua personalidade, tendo como características baixo nível de energia, necessidade de horas de sono acima da média, libido diminuída, maior preocupação com falhas pessoais.
- Ciclotimia: Sujeitos com constante alternância de sintomas leves de mania e depressão (diária ou por dias), que acabam não atendendo aos critérios temporais de síndromes afetivas completas, tendo como características labilidade de humor, raiva e irritabilidade. Além disso, podem apresentar dificuldades atencionais.
Os diferentes tipos de temperamento são constituídos com base nas disposições afetiva e comportamental, com forte origem genética. Estudos familiares identificaram uma alta prevalência de ciclotimia entre parentes de primeiro grau com transtorno bipolar tipo I.
Os temperamentos podem ser mensurados por meio do questionário preenchido pelo próprio paciente, TEMPS-A (Temperament Evaluation of Memphis Pisa Paris and San Diego Auto-questionnaire). A linha de corte costuma ser 75%, ou seja, 75% dos itens das subescalas devem ser confirmados.
O estudo caso-controle em tela comparou 50 sujeitos com 65 anos ou mais com diagnóstico de depressão maior a 100 controles. Os temperamentos foram avaliados usando o TEMPS-A. Para avaliar os sintomas de depressão e mania foram utilizadas as escalas Hamilton Depression Rating Scale (HDR) 17 e Young Mania Rating Scale (YMRS), respectivamente. Nesta amostra, 80% dos sujeitos apresentaram algum temperamento afetivo, mais comumente o hipertímico (67,3%). Entre os pacientes com depressão, 48% apresentaram critérios de temperamento hipertímico versus 77% dos controles (razão de chances ou odds ratio, OR, de 0,3; intervalo de confiança, IC, de 95% de 0,1 a 0,7). Com relação ao temperamento ciclotímico, 38,8% dos pacientes apresentaram critérios. Em relação aos controles, apenas 12% apresentaram critérios de ciclotimia (OR de 2,9; IC 95% de 1,1 a 7,2).
Para lembrar:
A análise do temperamento no tratamento dos pacientes com transtorno do humor é de extrema relevância e a melhor maneira fazê-la é usando o TEMPS-A, como realizado no estudo. A informação em relação ao temperamento não é apenas importante para o diagnóstico, mas também para o tratamento. O próprio estudo propõe que pacientes com depressão maior e temperamento ciclotímico podem responder melhor ao tratamento com estabilizadores do humor do que com antidepressivos.
Artigo publicado no Medscape em 28 de janeiro de 2020