Cannabis associada a hipomania em jovens
Uso de Cannabis e hipomania em jovens: uma análise prospectiva
A Cannabis é uma das substâncias ilícitas mais usadas no mundo ocidental e seu uso é comum entre jovens. Um estudo recente demonstrou que 31% dos jovens usou Cannabis três vezes ou mais até os 18 anos. O uso de Cannabis está relacionado com diversos tipos de problemas, como doenças cardiovasculares e acidentes automobilísticos, mas está especialmente relacionado com os sintomas psicóticos nos jovens.
A relação entre a Cannabis e os sintomas maníacos ou do transtorno afetivo bipolar (TAB) é pouco investigada, mesmo tendo uma grande importância, visto que existe uma grande ocorrência de abuso da substância entre jovens com a doença. Sabe-se que pacientes usuários de Cannabis aderem mal ao tratamento do TAB, além de terem maior número de hospitalizações.
Outra questão relevante é que no adulto, o transtorno afetivo bipolar está bastante associado ao uso de Cannabis. Em uma revisão sistemática com adultos, foram identificados seis estudos prospectivos e concluiu-se que a Cannabis piorava os sintomas maníacos nos pacientes com TAB. Em um estudo com pacientes com até 21 anos de idade, o uso de Cannabis aumentou em quatro vezes o risco de sintomas subsindrômicos. No entanto, a especificidade da relação se mantém pouco clara. Os poucos estudos que existem são mais focados em adultos e normalmente não são controlados para sintomas psicóticos, uma limitação bastante grave, dada a significativa evidência da relação entre os sintomas psicóticos e a Cannabis.
O grande objetivo do estudo foi testar a hipótese de que o uso de Cannabis por adolescentes está relacionado com a hipomania em adultos jovens. Para isto, foi usado o The Avon Longitudinal Study of Parents and Children (Avon), uma coorte britânica que examinou determinantes de desenvolvimento, saúde e doença no Reino Unido. Foi usada a relação de uso de Cannabis aos 17 anos e hipomania dos 22 aos 23 anos, usando uma análise regressiva ajustada por gênero, abuso de álcool e de drogas, depressão e sintomas psicóticos aos 18 anos. Foram analisados 3.370 participantes.
Os participantes que usaram a substância de duas a três vezes por semana apresentaram aumento do risco de hipomania maior do que o dobro (odds ratio = 2,21, intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,49 a 3,28) após ajustamento. A relação Cannabis-hipomania não foi mediada por depressão ou sintomas psicóticos.
Para lembrar:
A Cannabis na adolescência pode ser um fator de risco independente de hipomania, podendo ser um fator causal. Sendo assim, este é mais um motivo para que se regule ainda mais o acesso a Cannabis entre os adolescentes.
Mortalidade na esquizofrenia: um estudo de 30 anos de acompanhamento
Recentes relatórios têm sugerido que a diferença na lacuna de mortalidade entre pessoas com esquizofrenia e a população em geral está aumentando. Algo inesperado, tendo em vista a introdução de antipsicóticos novos e mais bem tolerados, além do avanço da medicina e do conhecimento da doença.
Uma recente metanálise demonstrou que a esquizofrenia foi associada à perda de ao menos 15 anos de vida. As causas de óbito nestes pacientes são variadas, desde suicídio até questões cardiovasculares causadas pelo alto índice de tabagismo e sedentarismo, além dos efeitos colaterais dos antipsicóticos. O objetivo deste estudo foi investigar a mortalidade, a idade no momento do óbito e a causa da morte em pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, e comparar com a população geral da Finlândia.
Para isso, todas as pessoas diagnosticas com esquizofrenia no país, após alta hospitalar foram identificadas e comparadas com a população em geral acima dos 16 anos, durante o período de 1984 a 2014. Os dados foram obtidos do banco de dados finlandês. A idade no momento do óbito e a taxa de mortalidade padronizada foram calculadas anualmente.
A média de idade de morte de pessoas com esquizofrenia aumentou de 57,6 anos em 1984, para 70,1 anos em 2014. Na população em geral, o aumento foi de 70,9 para 77,5. Todas as causas de mortalidade se mantiveram estáveis, com exceção do suicídio, que diminuiu de 11,0 em 1984 para 6,6 em 2014 – uma redução de 40%.
Para lembrar:
A longevidade dos pacientes com esquizofrenia está melhorando praticamente na mesma proporção que a da população em geral. O suicídio nesta população teve uma diminuição considerável. Entretanto ainda existe uma grande disparidade na mortalidade dos pacientes esquizofrênicos, quando comparados à população em geral. Com diagnósticos mais precisos e tratamentos mais acessíveis essa disparidade poderia diminuir ainda mais.
Eficácia e tolerabilidade do uso de lítio para o tratamento da mania aguda em crianças com transtorno afetivo bipolar: uma revisão sistemática
O lítio é tido como o padrão ouro para o tratamento da mania aguda, mas a maioria dos estudos até hoje não inclui crianças e adolescentes. Mesmo sendo incomum, alguns estudos têm mostrado sintomas maníacos em crianças. Muitas vezes estas crianças apresentam quadros com curso de ciclagem ultrarrápida e com alto índice de sintomas psicóticos. Tudo isso acaba predizendo uma baixa resposta ao lítio em adultos. Não se deve generalizar achados de adultos para crianças.
Recentes estudos mostram evidências neuroprotetoras do lítio e, além disso, outros estudos mostram que postergar o tratamento das crianças traria consequências ruins.
Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia e tolerabilidade do uso de lítio para o tratamento do quadro agudo em crianças e adolescentes. Para isso, foi usada uma busca sistemática da literatura até agosto de 2017, incluindo estudos clínicos com pacientes de até 18 anos de idade com diagnostico de transtorno bipolar ou episódio misto.
Foram encontrados quatro estudos que preencheram os critérios de inclusão, e os de exclusão, que eram amostras com doenças graves, doenças neurológicas, deficiência intelectual ou traumatismo craniano. A mania deveria ser confirmada em uma entrevista presencial com a criança.
No total, 176 crianças foram tratadas com lítio como monoterapia ou como tratamento adjuvante à risperidona.
Os resultados sugerem que o lítio seja superior ao placebo (diferença média padrão, DMP, – 0,42; IC 95%, de – 0,88 a – 0,04), comparado ao ácido valproico (DMP – 0,07; IC 95%, de 0,31 a 0,18), mas significativamente menos efetivo do que a risperidona (DMP 0,85; IC 95%, de 0,54 a 1,15). No entanto, o lítio não foi associado a efeitos colaterais graves e, no geral, foi bem tolerado, com efeitos colaterais parecidos com os dos adultos.
Para lembrar:
Ainda existem poucos dados sugerindo que o lítio seja efetivo e bem tolerado para o tratamento da mania em crianças. Novos estudos randomizados são necessários para esclarecer esta dúvida que ainda paira sobre este quadro. No entanto, precisamos entender em primeiro lugar que o diagnóstico de transtorno bipolar na infância é um diagnóstico legítimo.
Artigo publicado no Medscape em 25 de dezembro de 2018