Benzodiazepínicos: uso inadequado e doenças relacionadas entre adultos nos EUA

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Prevalência e correlação do uso, uso inadequado e doenças relacionadas aos benzodiazepínicos entre adultos nos Estados Unidos da América

Benzodiazepínicos normalmente são utilizados por um curto período no tratamento de ansiedade e insônia. No entanto, seu manuseio é complicado pois há o risco de o paciente fazer uso inadequado da medicação. O uso inadequado de benzodiazepínico é normalmente definido como uso do psicotrópico sem prescrição, em maiores quantidades, com mais frequência, ou por um período mais longo do que o prescrito. Além disto, existe o risco do desenvolvimento de transtornos relacionados com o uso desses medicamentos. O uso inadequado de benzodiazepínicos e os transtornos relacionados estão associados a várias consequências, como diminuição da coordenação motora, acidentes de trânsito e morte prematura.

Alguns estudos examinaram a prevalência e a correlação do uso inadequado e dos transtornos relacionados com os benzodiazepínicos. Entretanto, nenhum estimou a prevalência norte-americana e examinou sua correlação com o uso inadequado e as doenças relacionadas com essas substâncias. Um recente estudo descreveu a primeira estimativa de uso de benzodiazepínicos por idade e pelo sexo. Por ser um estudo feito com dados de farmácia, não se pode examinar outras características sociodemográficas, avaliar informações diagnósticas dos pacientes, ou estimar a prevalência e a correlação do uso inadequado às doenças relacionadas com os benzodiazepínicos.

Neste estudo, se aproveitou uma amostra nacional bastante representativa de adultos norte-americanos para examinar: 1) a prevalência e a correlação do uso de benzodiazepínicos; 2) a prevalência e a correlação do uso inadequado e das doenças relacionadas com os benzodiazepínicos; 3) motivações para o uso inadequado e a fonte dos benzodiazepínicos para o uso inadequado.

Foram incluídos 102.000 adultos com mais de 18 anos que participaram da pesquisa nacional sobre uso de drogas e saúde (NSDUH, do inglês National Survey on Drug Use and Health) entre 2015 e 2016. Para isto, foram usadas análise descritiva e regressão logística multinomial.

NSDUH definiu como uso inadequado: 1) uso sem prescrição; 2) uso de quantidades maiores, mais frequentes ou durante um período maior do que o prescrito; 3) uso de qualquer maneira diferente da que o médico tenha orientado.

No período de 2015 a 2016, 12,5% adultos norte-americanos usaram benzodiazepínicos. Uma amostra de 2,1% fez uso inadequado do medicamento ao menos uma vez, e 0,2% apresentou alguma doença relacionada com os benzodiazepínicos. Entre os pacientes que usam benzodiazepínicos, 17,1% fizeram uso inadequado do medicamento e 1,5% apresentaram alguma doença relacionada com os medicamentos, como abuso ou dependência. O uso de benzodiazepínicos está mais associado a prescrição no pronto-socorro, no tratamento da ideação suicida e nas doenças mentais. O uso inadequado está associado a jovens, sexo masculino, negros e baixa escolaridade. As correlações com dependência e abuso são parecidas com as do uso inadequado.]

Para lembrar:

Por mais que os uso de benzodiazepínicos seja relativamente alto entre os adultos, o abuso e a dependência não são frequentes entre os pacientes que tomam esses medicamentos, como demonstrado na pesquisa. Muitas vezes, esta classe de medicamentos pode salvar vidas nos casos graves de ideação suicida.

Consequências adversas dos diferentes padrões de consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes: uma análise integrativa dos dados de coortes da Oceania de pacientes até os 30 anos

Estudos têm associado o consumo de bebidas alcoólicas pelos adolescentes a efeitos adversos na fase adulta. Até hoje não está claro qual é a força desta associação e a dimensão das consequências de fatores confundidores. O uso de bebidas alcoólicas por adolescentes com idade entre 15 e 19 anos é muito comum. Destes, 34% consomem álcool regularmente e 12% têm episódios de consumo exagerado. O consumo de bebidas alcoólicas pode comprometer o desenvolvimento cerebral, aumentar o risco do uso de outras substâncias entorpecentes, e aumentar o comportamento sexual de risco e de violência. Apesar do conhecimento das consequências de longo prazo do consumo de álcool por adolescentes, as conclusões da últimas revisões sistemáticas são esparsas e de baixa qualidade, por não haver controle dos vieses e pelo baixo poder estatístico.

Este estudo aborda temas com relação ao padrão de consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes, integrando dados de quatro estudos longitudinais australianos e da Nova Zelândia, por meio de “participant level data”,em vez de metanálises de dados agregados. Este método aumenta o tamanho da amostra e a precisão estatística, além de ampliar o escopo de generalização dos achados. O estudo teve como objetivo estimar as consequências psicossociais a longo prazo de três níveis de consumo de bebidas alcoólicas, denominados: frequente, episódios excessivos e problemas ao consumir bebidas alcoólicas. Os participantes foram avaliados várias vezes, entre os 13 e 30 anos de vida. O número de participantes variou, chegando a 9.453 jovens. Os três níveis de consumo de bebidas alcoólicas foram avaliados antes dos 17 anos. Aos 30 anos, foram avaliados 30 desfechos em relação ao uso de substâncias entorpecentes, acidentes, comportamentos sexuais de risco, saúde mental e relacionamentos.

Após os ajustes por covariáveis, consumir bebidas alcoólicas semanalmente antes dos 17 anos foi associado a compulsão por beber (odds ratio = 2,14; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,57 a 2,90). Aumento de mais de duas vezes do risco de beber e dirigir (odds ratio = 2,78; IC 95%, de 1,84 a 4,19). Dependência de bebidas alcoólicas teve seu risco aumentado mais de três vezes (odds ratio = 3,30; IC 95%, de 1,69 a 6,47) na idade adulta.

Para lembrar:

O consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes é extremamente perigoso para o desenvolvimento cerebral, além de trazer riscos futuros significativos na idade adulta. A prevenção e o controle da venda de bebidas para menores é uma política de saúde pública de extrema importância.

Associação entre religiosidade dos pais e filhos e ideação suicida com ou sem tentativa de suicídio dos filhos.

O suicídio é a principal causa de morte de adolescentes do sexo feminino entre 15 e 19 anos. Aproximadamente 12% dos adolescentes relatam ideação suicida. Estudos anteriores examinaram fatores de risco de suicídio entre crianças e adolescentes. Um fator de risco que tem recebido pouca atenção é a religiosidade. Isto é interessante, pois as práticas religiosas têm sido associadas a menores índices de suicídio desde o trabalho seminal de Durkheim, há mais de 100 anos. Os poucos estudos que examinaram a associação entre a religiosidade das crianças e/ou adolescentes e o suicídio têm demonstrado que a religiosidade está associada à diminuição da taxa de ideação suicida e de tentativas de suicídio. Esta associação tem sido mais observada entre as meninas.

Os objetivos deste estudo foram: replicar a associação da religiosidade dos filhos e o comportamento suicida; examinar a associação entre a religiosidade dos pais e o comportamento suicida dos filhos; e observar a associação simultânea da religiosidade de pais e filhos e o comportamento suicida dos filhos.

O estudo foi feito com três gerações de filhos, com dados do New York State Psychiatric Institute e da Columbia University. Importante ressaltar que a segunda e a terceira geração foram definidas como tendo alto ou baixo risco de depressão maior, de acordo com a existência ou ausência de depressão maior na primeira geração. A idade dos participantes variou de 6 a 18 anos. Foram incluídos 214 participantes, sendo 52,3% meninas. A religiosidade teve uma associação mais importante em relação ao risco de comportamento suicida entre as meninas (odds ratio = 0,48; IC 95%, de 0,33 a 0,70). A religiosidade dos pais esteve mais associada a menor risco de comportamento suicida (odds ratio = 0,61; IC 95%, de 0,41 a 0,91).

Para lembrar:

A religiosidade ainda é um fator pouco estudado pela ciência. Entretanto, sabemos que nos países mais religiosos os índices de suicídio podem ser menores. Mais estudos para compreender como funciona esse fator de proteção são de extrema importância.

Artigo publicado no Medscape em 30 de outubro de 2018