Associação de irritabilidade, depressão/ansiedade na infância com ideação e tentativas de suicídio na adolescência

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Uso de eletroconvulsoterapia em tratamento de manutenção e continuidade na depressão: revisão sistemática e meta-análise

Os episódios depressivos são altamente recorrente, trazendo ao paciente substancial morbidade e mortalidade. Estudos longitudinais de mais de 15 anos mostram uma taxa de recorrência ao redor de 85%. A eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento efetivo para episódios depressivos agudos, porém não é comprovada para a manutenção ou profilaxia de novos episódios.

A diferença entre o tratamento de continuidade e o de manutenção é  puramente temporal. O tratamento de continuidade refere-se ao tratamento dos seis meses após a remissão do episódio agudo. Já o tratamento de manutenção refere-se ao tratamento além dos seis meses. O objetivo do primeiro é evitar recaída, e do segundo é evitar recorrência.

Com o aparecimento da farmacoterapia os estudos sobre ECT diminuíram, mas voltaram na década de 80, e ainda com mais força nos últimos anos. Alguns estudos randomizados e não randomizados sugerem que o tratamento de continuidade e manutenção são bem tolerados e efetivos na prevenção de recorrência e recaída. No entanto a maioria das diretrizes e revisões sistemáticas mostram resultados inconsistentes. Esta é a primeira meta-análise de estudos randomizados sobre estudos de continuidade e manutenção em transtornos depressivos.

Nesta revisão foram os utilizados os bancos de dados MEDLINEEmbasePsycINFOClinicaltrials.gov e Cochrane. Os critérios de inclusão foram: estudos randomizados de continuidade ou manutenção sem restrição de língua, idade mínima de 18 anos, diagnóstico de depressão maior, remissão após uso agudo de ECT, continuidade no uso de ECT por seis meses ou mais. Depressão bipolar também foi incluída. A comparação dos estudos foi feita entre ECT associada a uso ou não de antidepressivos e uso de antidepressivos apenas.

De 1.567 estudos, apenas cinco foram incluídos na meta-análise, envolvendo 436 pacientes. A análise dos dados demonstrou que o uso da ECT para tratamento de continuidade e manutenção, ambos em conjunto com farmacoterapia, foi associado a menos recaídas e recorrências quando comparado à farmacoterapia sozinha, após seis meses e um ano de tratamento agudo com ECT (RR = 0,64; IC de 95%, 0,41 – 0,98 e RR = 0,46; IC de 95%, 0,21 – 0,98). No entanto não houve dados suficientes para realizar a meta-análise tanto para o tratamento de continuidade quanto com relação à manutenção.

Para lembrar:

É importante ressaltar que as evidências que existem até hoje não suportam o uso da ECT para tratamento de manutenção, seja na depressão unipolar ou bipolar. No entanto, esta ferramenta é de extrema importância no tratamento de episódios agudos em ambas doenças.

Disparidade racial e idade em taxas de suicídio entre jovens americanos entre 2001 e 2015

As taxas de suicídio entre brancos nos EUA tradicionalmente eram mais altas que entre os negros em todas as idades. No entanto, as taxas de suicídio entre crianças negras na faixa etária entre cinco e 11 anos aumentou nos períodos de 1993 a 1997, e de 2008 a 2012, e diminuiu entre brancos da mesma idade. A literatura existente não descreve adequadamente as disparidades do suicídio entre jovens.

Os dados do estudo foram obtidos do Web-based Injury Statistics Query and Reporting System (WISQARS), dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC). A taxa de suicídio foi calculada por meio do WISQARS. Foram calculados riscos relativos entre idades comparando taxas entre brancos e negros. Para tanto foi usado regressão binomial.

Foram identificados 1.661 suicídios entre jovens negros (73,8% meninos e 26,2% meninas) e 13.341 suicídios entre jovens brancos (74,3% meninos e 25,7% meninas) entre 2001 e 2015. Durante este período a taxa de suicídio entre negros foi 42% menor que entre brancos, no entanto esta diferença foi fortemente distinta entre grupos de idade. No grupo de crianças na faixa etária de cinco a 12  anos, o suicídio entre crianças negras teve uma incidência significativamente maior que entre as crianças brancas (RR = 1,82; IC de 95%, 1,59 – 2,07). Adolescentes negros com idades entre 13 e 17 anos tiveram uma taxa de suicídio quase 50% menor que os adolescentes brancos (RR = 0,51; IC de 95%, 0,48 – 0,53). Se observarmos a estratificação por sexo, as meninas têm um risco de quase quatro vezes maior de cometer suicídio na faixa etária de cinco a 11 anos, enquanto os meninos têm um risco 2,5 vezes maior. O risco de suicídio entre os brancos só se torna maior a partir dos 13 anos. O estudo não aborda causas ou mecanismos destas diferenças, mas entende que é importante usar estas diferenças nas políticas de prevenção do suicídio.

Para lembrar:

É importante ressaltar que Brasil e EUA tem algumas similaridades históricas e culturais, incluindo a história de escravidão da população africana, sendo o Brasil o último país a libertar os escravos. Estudos como este são importantes para entendermos como devemos desenvolver políticas de prevenção ao suicídio levando em consideração particularidades de cada estrato da população. Um estudo brasileiro com foco na disparidade racial seria de extrema relevância para a saúde pública.

Associação de irritabilidade, depressão/ansiedade na infância com ideação e tentativas de suicídio na adolescência

Tentativas de suicídio são um problema de saúde pública. Indivíduos com transtornos do humor apresentam um risco maior de desenvolver ideação suicida, tentativa de suicídio, e de cometer suicídio. Por isto é importante reconhecer as manifestações iniciais das doenças que estão associadas a comportamentos suicidas.

Irritabilidade é um dos sintomas centrais dos transtornos do humor. No entanto, nas crianças a irritabilidade é observada com mais frequência do que nos adultos, chegado a um terço das crianças diagnosticadas com estes transtornos. Em alguns pacientes a irritabilidade se acentua, chegando a se transformar em ira.

Apesar da importância da interação da irritabilidade e da depressão na infância, apenas dois estudos longitudinais investigaram a relação delas com o comportamento suicida. Ambos estudos sugerem que a irritabilidade aumenta o risco de suicídio, independentemente dos sintomas de depressão. Nenhum destes estudos examinou a contribuição conjunta de ambos sintomas.

Este estudo longitudinal prospectivo teve como objetivos observar o perfil de irritabilidade e depressão e/ou ansiedade durante o curso da infância, e examinar a associações desses quadros com comportamentos suicidas durante a adolescência. O estudo incluiu 1.430 participantes, sendo 47,3% meninos e 52,7% meninas. O acompanhamento durou até os 17 anos de idade, e os pacientes faziam parte do estudo longitudinal de desenvolvimento de Québec (Canadá). No modelo de análise de regressão logística pacientes com alta irritabilidade e depressão/ansiedade apresentavam um risco duas vezes maior de comportamento suicida (OR= 2,22; IC de 95%, 1,32 – 3,74). Pacientes com moderada irritabilidade e poucos sintomas depressivos/ansiosos ainda apresentaram um risco relativamente alto em relação ao suicídio (OR = 1,51; IC de 95%, 1,02 – 2,25). Meninas com alta irritabilidade e com muitos sintomas depressivos/ansiosos têm um risco ainda maior, chegando a uma OR de 3,07 (IC de 95%, 1,54 – 6,12).

Para lembrar:

Crianças que manifestarem alta irritabilidade associada a sintomas de humor têm maiores chances de apresentar comportamentos suicidas, como ideação e tentativa. Estas crianças, quando apresentarem além destes, fatores de risco como história familiar de suicídio ou tentativa, devem ser acompanhas com mais cuidado. Em grande parte dos casos o carbonato de lítio é a única medicação com ação profilática quanto ao suicídio, devendo ser utilizada mesmo em crianças.

Artigo publicado no Medscape em 14 de junho de 2018