Suicídio: fatores de risco são extremamente importantes para a prevenção

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Fatores de risco para suicídio em depressão: pacientes hospitalizados pela primeira vez acompanhados por 24 anos na Finlândia

Cerca de 50% das pessoas que cometem suicídio sofrem de transtornos do humor, e cerca de 50% têm algum histórico de internação psiquiátrica.

Os pacientes hospitalizados com transtornos afetivos têm alto risco de suicídio, no entanto, evidências prospectivas sobre os fatores de risco de suicídio em transtornos do humor são limitadas. A grande maioria dos estudos foca em dados de pessoas próximas ou de familiares para avaliar ideação e tentativas de suicídio, acarretando incerteza na generalização dos resultados.

De acordo com algumas revisões sistemáticas, existem alguns importantes fatores de risco de suicídio em pacientes com transtornos do humor, como: ser do sexo masculino, ter história familiar de doença psiquiátrica, tentativas prévias e gravidade do episódio, desesperança, comorbidade com ansiedade, transtornos de personalidade e abuso de substâncias.

No entanto, as evidências são, na maioria das vezes, provenientes de estudos de caso-controle e de coortes com amostras pequenas. Assim, estudos longitudinais de grande escala na avaliação, planejamento terapêutico e esforços preventivos clínicos são necessários.

A disparidade entre os gêneros como fator de risco de suicídio ainda deve ser melhor compreendida, sendo necessária a realização de mais estudos. O excesso de mortalidade em homens pode ser explicado pela diferença de comorbidades de doenças mentais, pelas tentativas de suicídio, pelos traços impulsivos agressivos ou pela escolha de métodos mais letais.

Este estudo foi baseado na coorte finlandesa de todos os pacientes internados pela primeira vez (N = 56.826) por depressão, entre 1991 e 2011, e que foram acompanhados depois da alta até o final do ano de 2014 ou até a morte. Destes, 25.188 eram homens e 31.638 eram mulheres.

As características clinicas encontradas foram: gravidade do quadro depressivo (razão de risco ou hazard ratio, HR, de 1 ,19; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1 ,08 a 1 ,30), depressão psicótica (HR = 1,45; IC 95%, de 1 ,30 a 1 ,62), comorbidade com abuso de bebidas alcoólicas (HR = 1 ,26 ; IC 95%, de 1 ,13 a 1 ,41) e ser do sexo masculino (HR = 2 ,07; IC 95% de 1 ,91 a 2 ,24).

Para lembrar:

Fatores de risco são extremamente importantes para a prevenção do suicídio na prática clínica. Homens com tentativas prévias são pacientes com alto potencial de virem a cometer uma nova tentativa de suicídio. Estes pacientes precisam ser acompanhados com proximidade, e de preferência ser tratados com lítio, mesmo que em doses baixas.

Análise populacional da relação entre o uso de substâncias e o desenvolvimento cognitivo no adolescente

Além dos efeitos agudos, o uso de álcool e de Cannabis tem sido associado a dificuldades em relação a aprendizado, tomadas de decisão , funções cognitivas e baixo desempenho escolar.

Met an álises têm associado o uso de Cannabis a piora cognitiva em domínios como aprendizado, memória e atenção. O consumo pesado e regular de bebidas alcoólicas estaria relacionado a uma baixa velocidade de processamento, fluência verbal, funções executivas, atenção e habilidade visoespacial.

Alguns estudos mostram que estes efeitos persistem até a idade adulta e outros mostram que alguns domínios se recuperam com o cessar do consumo. Estudos de imagem mostram volumes menores de regiões cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas, como o córtex pré-frontal e hipocampo esquerdo.

O que ainda precisa ser estabelecido na literatura é se este prejuízo está relacionado a uma vulnerabilidade do uso d as substâncias ou uma consequência direta do uso das substâncias.

Poucos estudos investigaram a relação entre as funções cognitivas e o uso repetitivo de substâncias. A maioria dos estudos simplesmente testou a diferença na cognição em um dado momento e após o acompanhamento. Na falta de desenhos experimentais, desenhos longitudinais de larga escala com múltiplas e repeti das avaliações oferecem uma oportunidade de explorar inferências sobre caus alidade entre duas variáveis, examinando como as mudanças em um domínio estão relacionadas a outro.

Usando uma estrutura multivariável e multinível, a associação entre uso de substâncias e cognição pode ser investigada com respeito a quatro hipóteses teóricas. A primeira seria que a memória de trabalho e a resposta inibitória estariam associadas ao risco de início precoce e pesado de uso de substâncias. A segunda hipótese seria que aumento do consumo de bebidas alcoólicas irá predizer um prejuízo na memória de trabalho espacial, na memória de recordação e na inibição, além da vulnerabilidade comum. A terceira hipótese seria que o consumo de bebidas alcoólicas e alterações nas funções de memória poderiam ser causadas por hipóteses de vulnerabilidade e neuroplasticidade. A quarta hipótese seria que a deficiência da memória visuoespacial seria consequência do uso de Cannabis na adolescência.

Uma amostra de 3.826 sujeitos da sétima série de 31 escolas diferentes, equivalendo a 5% de todos os estudantes que entraram no ensino médio entre 2012 e 2013 na grande Montreal (Canadá), foi avaliada anualmente por quatro anos sobre o uso de álcool, Cannabis, memória de recordação, inibição e memória de trabalho, usando uma avaliação escolar computadorizada. Uma regressão com modelo multinível foi usada para cada substância para testar vulnerabilidade e efeitos concomitantes para cada domínio cognitivo.

Um efeito de vulnerabilidade foi detectado para Cannabis e álcool em todos os domínios. Consumo de Cannabis e não de álcool mostrou efeitos neurotóxicos em relação ao controle inibitório da memória de trabalho. Além dis so, mostrou um atraso na memória de recordação.

Para lembrar:

O uso de Cannabis por adolescentes tem efeitos importantes nas funções cognitivas e parece ser mais pronunciado que o efeito do álcool. Estudos como este são importantes para se pensar políticas de saúde pública.

Associação entre uso de antidepressivos e fratura de quadril em idosos

A depressão é uma doença comum entre indivíduos de todas as idades, com uma prevalência de até 20%, atingindo mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo. Depressão está associada a muitas comorbidades.

Antidepressivos são drogas importantes para o tratamento da depressão, mas seu uso está associado a efeitos adversos, principalmente no idoso. Um destes efeitos adversos seria o aumento da incidência de quedas. Estas quedas podem muitas vezes levar a fratura de quadril nos idosos. Existem algumas evidências que os antidepressivos afetam o metabolismo ósseo, aumentando ainda mais o risco de fraturas de quadril. A grande maioria das evidências é proveniente de estudos observacionais resultando em um grande debate sobre caus alidade, confundidores e viés.

Em particular, indivíduos com doenças graves e depressão podem ter um risco maior de fratura antes do início do tratamento com antidepressivos. Neste estudo, os autores investigaram a associação entre uso de antidepressivos e fratura de quadril um ano antes e um ano após o início do tratamento com antidepressivo em indivíduos com 65 anos ou mais.

Foram incluídos 408.144 sujeitos, entre eles, 61,3% mulheres com média de idade de 80 ,1 anos. Usuários de antidepressivos tiveram duas vezes mais fraturas de quadril quando comparados aos não usuários. Na análise ajustada, a odds ratio foi maior na associação entre uso de antidepressivos e fratura de quadril, entre 16 e 30 dias antes da prescrição do antidepressivo (odds ratio, OR, de 5 ,76; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 4 ,73 a 7 ,01).

Para lembrar:

O estudo demonstra uma associação entre antidepressivos e fratura de quadril antes e depois da prescrição do medicamento. É importante que, quando necessário, o uso se inicie com doses menores e se faça um aumento gradual. Além disso, seria importante dar preferência para drogas com menor efeito anticolinérgico e histaminérgico.

Artigo publicado no Medscape em 04 de março de 2019