Desafio dos 10 anos: o que mudou na psiquiatria?

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Tratamento: a redenção do lítio

Há 10 anos o uso do carbonato de lítio tinha evidências praticamente restritas ao uso como estabilizador do humor, e principalmente à prevenção dos quadros maníacos.

Neste período as pesquisas se desenvolveram muito. Passada uma década, as evidências de outras utilidades deste medicamento são cada vez mais robustas:

  • O lítio, mesmo em doses mínimas, diminui a incidência de casos de suicídio, mesmo em pacientes que não sofrem de transtorno bipolar. Em uma das revisões mais recentes houve uma diminuição de quase 60% do risco de suicídio em pacientes usuários de lítio (odds ratio, OR = 0,36; intervalo de confiança, IC, de 95% de 0,13 a 0,98).
  • Os usuários de lítio têm uma incidência menor de casos de automutilação. Uma revisão de 32 estudos mostra uma diminuição de quase 80% do risco de automutilação em pacientes em uso de lítio em relação aos que não usam (OR = 0,21; IC 95% de 0,08 a 0,50).
  • Também vêm se acumulando evidências de que usuários de lítio têm um risco menor de desenvolver quadros demenciais. Os efeitos neuroprotores do lítio têm aparecido em pesquisas, mesmo em doses pequenas, como 150 mg/dia. Transtornos do humor são fator de risco para demência. Pacientes que usam lítio têm um risco de demência igual ao da população em geral.

Hoje se sabe que o lítio não só previne novos episódios de mania, mas também episódios de depressão recorrentes. O que nos faz, cada vez mais, pensar que depressão e transtorno bipolar fariam parte da mesma doença, como se entendia antes de 1980 e da chegada da 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III, sigla do inglês Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da American Psychiatric Association (APA).

Diagnóstico

Novos conceitos…

Uma década atrás a síndrome de Asperger era entendida como uma doença relacionada, porém distinta do autismo. O DSM-5, incluiu em 2013 a síndrome de Asperger como parte do transtorno do espectro autista. [5]

Novas abordagens…

A associação psiquiátrica norte-americana deu um passo muito importante ao reconhecer a existência das características de quadros mistos em pacientes com diagnóstico de depressão. Incluindo os especificadores de características mistas. O que nada mais é do que a aceitação dos sintomas maníacos misturados a episódios depressivos. Isto muda totalmente a abordagem terapêutica deste tipo de paciente. [5]

E mais questionamentos…

A última década viveu um aumento no diagnóstico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em adultos. Uma doença que há anos era mais restrita às crianças passou a ser diagnosticada com muita frequência em adultos, trazendo muita discussão para o meio psiquiátrico em relação à validade deste diagnóstico.

Artigo publicado no Medscape em 14 de fevereiro de 2019